Este texto está de luto. Diante do atual contexto de recrudescimento da pandemia de covid-19 e do projeto genocida empreendido pelo atual governo brasileiro esta escrita vem manifestar pesar e profundos sentimentos por todas as mortes. Mortes de amigos e familiares, mortes das populações negra, indígena e quilombola, mortes de mulheres, da população lgbtqi+ e tantas outras. Justifica-se esta escrita enlutada como oposição e enfrentamento à barbárie, ao horror e à violência do estado que nega vacinas, que nega condições de trabalho e vida empurrando milhões de pessoas para a morte. A presente comunicação que se organiza como uma dança ritual em respeito à vida é uma reverberação de uma pesquisa também em luto e entubada. A pesquisa de doutoramento em curso se encontra instável, respirando por aparelhos, enquanto sonha e delira com encontros afetivos e movimentos de emancipação e justiça social. As performances e utopias espiraladas apresentadas através desses delírios vividos nos distópicos anos de 2020 e 2021 apresentam cantos, danças, poesias, artes vindas de corpos não enlutáveis, existências não consideradas choráveis.
Ancorada nos estudos de Glória Anzaldúa, Judith Butler, Chimamanda Ngozi Adichie, Audre Lorde, Leda Maria Martins e Beatriz Nascimento abrimos as comportas do choro, do respiro e do silêncio. A teoria da carne e a metodologia da auto-história são inspiradas por essas autoras e por experiências, saberes, artes e culturas de mulheres afrodiaspóricas e dos povos originários. No delírio de imaginar um resultado possível, vislumbra-se o continuum dos processos criativos como encruzilhadas teóricas, militantes, artísticas de luto e em luta com discursos de resistência ao patriarcado, ao capitalismo, ao racismo e ao machismo. Vidas-obras de mulheres negras como trajetórias de viandança utópica em coletividade, encarnando e localizando na própria pele rigorosos processos éticos e estéticos. Corpos dançando o luto, lutando contra a asfixia, rasgando nas unhas as fronteiras dicotômicas entre teoria e prática, teimosamente insistindo na utopia da vida, nas liberdades democráticas, na busca por emancipação e justiça social.
Artigo disponível em: https://fai1uploads.s3.amazonaws.com/1/others/e338328b5c0f7392f37a109fef52908f778c4cab.pdf
Palavras-chave: Luto; Arte afrodiaspórica; Encruzilhadas; Utopia.
Moura, Daia; Mendonça, Viviane. Dançar o luto. In. Seminário de Estudos da Condição Humana do Programa de Pós Graduação Estudos da Condição Humana - Respiração em Tempos de Pandemia (Anais eletrônicos). UFSCAR/Sorocaba, 2021, ISBN 978-85-94099-14-3.
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